O Kappa  (filho do rio), é um yōkai encontrado no folclore japonês. Também é conhecido como Kawataro (menino do rio), Komahiki (puxador de cavalo), ou Kawako (criança do rio). É uma criatura mística que vive em rios, lagoas e lagos, por vezes classificado como um bakemono. Reconhecidamente maléfico, a ele é atribuído à maioria dos afogamentos de mulheres e crianças. Porém, dependendo da região, ele pode ser visto como benevolente.

 

Uma origem para os Kappas pode ser a de que eles sejam os fantasmas de pessoas afogadas. Ou seja, qualquer lagoa ou rio pode ter um. Eles possuem imensa força e podem facilmente dominar um humano. Quando plenamente desenvolvido, um kappa tem o tamanho de uma criança de dez anos e ele é hermafrodita. Sua pele é escamosa e verde-amarelada; tem cara de macaco, costas de tartaruga; as mãos e os pés têm membranas, para nadar mais facilmente. Talvez seu traço físico mais característico seja uma depressão em forma de pires no topo da cabeça, que deve sempre conter água, para que o kappa possa conservar seus poderes sobrenaturais e sua força extraordinária quando está em terra.

 

Um kappa coberto com cabelo é conhecido como um Hyosube (uma classe mais cruel de Kappa).

Os kappas vivem em rios, lagos e lagoas, mas nunca hesitam em subir a terra firme em busca de sua presa. Tradicionalmente os contos retratam-nos como mal-intencionados, ávidos por sugar as entranhas de sua vítima e beber seu sangue. Diz-se que adoram especialmente o fígado humano. Mas também são representados como inteligentes e honrados. Diz-se que a humanidade aprendeu a arte de curar fraturas de ossos com um kappa, que ofereceu esse conhecimento em troca do seu braço amputado em uma de suas aventuras de pilhagem. Os braços e as pernas de um kappa, quando presos de novo ao corpo, ficam como novos em questão de dias.

 

Um dos maiores prazeres do Kappa é desafiar os seres humanos para um confronto. Eles desafiam transeuntes para jogos como “Puxe-meu-dedo” e luta de sumô. Caso a vitória seja do yokai, ele geralmente afoga e devora o perdedor. Embora ele seja temível e briguento, é também extremamente educado, e sabendo tirar proveito dessa qualidade oportuna, poder-se-á ter uma chance de escapar da morte ao ser desafiado por ele.

Quem receber um desafio do Kappa, deve se curvar profundamente diante dele, que por sua vez sentirá o dever de retribuir inclinando-se cortesmente, e ao fazê-lo, o líquido que é a fonte de sua força, escorrerá do orifício de seu crânio, deixando-o fraco. Então, ao desafiado cabe fugir o mais rápido possível, pois a fraqueza do Kappa é momentânea e o fluído se regenera ao simples contato com a água. Mas, mesmo estando fraco, querer derrotar a criatura pode ser um desastre, pois dizem que o Kappa é indestrutível.

Um conto fala de um samurai que aceitou o pedido de um kappa para um cabo-de-guerra. Felizmente, enganando o youkai, o guerreiro usou um cavalo para puxar em seu lugar. O demônio caiu, derramando o conteúdo de sua cabeça no chão. Então fraco demais para fugir, o kappa prometeu ensinar ao samurai seu conhecimento sobre massagem, caso pudesse ser liberado. Outra estratégia para aplacar um kappa mal-intencionado é dar-lhe pepinos para comer, pois trata-se de seu alimento predileto. Diz-se que riscar o nome dos familiares na casca de pepinos e depois jogá-los dentro da água protege essas pessoas contra os kappas, que ao aceitarem os pepinos para comer, ficam moralmente obrigados a não fazer mal a essas pessoas.

 

Lenda - A Criança do Rio

 

Nas cidades da província de Shimane, os aldeões se referem ao Kappa como Kawako “A criança do Rio”. Existe um pequeno vilarejo na cidade de Matsue, onde às margens de um rio, foi erguido um pequeno templo conhecido como Kawako-no-miya,“Templo do Kawako”, que dizem conter um documento assinado pelo próprio Kappa.

Em tempos idos, um Kawako (Kappa) que morava no rio de um vilarejo próximo a cidade de Matsue, adquirira o mau hábito de matar muitos habitantes das vizinhanças, inclusive seus animais domésticos. Em certa ocasião, um cavalo foi até o rio beber água, e o Kawako, tentando capturá-lo, avançou rapidamente para abocanhar seu dorso. Devido a estatura do cavalo, bem maior ao do Kawako, este acabou quebrando o pescoço, mas apesar da dor que sentia, recusou-se a soltar o animal. O cavalo ficou apavorado e empinou logo em seguida, saltou para a outra margem do rio, pulou a ribanceira e correu para o campo, sempre com o Kawako agarrado à sua crina.

Do outro lado do campo, o dono do cavalo viu aquela cena inusitada e, juntamente com outros camponeses, foi ao encalço da estranha dupla conseguindo capturá-los. Seguraram fortemente a Criança do Rio, “Vamos matar esta terrível criatura”, disseram, “pois está provado que cometeu muitos crimes hediondos e faremos bem de nos livrarmos de tão temível monstro”. “Não”, replicou o dono do cavalo, “não vamos matá-lo. Vamos fazê-lo jurar que nunca mais matará nenhum dos habitantes da vila, nem seus animais”.

Dado o fato, foi redigido um documento no qual o Kawako foi convidado a ler e assinar. “Não sei escrever”, disse a criatura arrependida, “mas posso mergulhar minha mão na tinta e a colocar sobre o documento, como prova do meu arrependimento e da minha palavra”.

 

Depois do acordo firmado, o Kawako foi liberado e autorizado a voltar para o rio, mantendo-se a partir desse dia, fiel à sua promessa.

 

A lenda “A Criança do Rio”, conta que os japoneses aprenderam a curar fraturas com um Kappa, que ofereceu seus conhecimentos em troca do seu braço que fora amputado por aldeões em um Vilarejo. Ele pediu aos moradores que trouxessem seu membro de volta, a comunidade então forçou o kappa a assinar um contrato em troca do braço perdido. A partir de então, o kappa passou a entregar um monte de peixes para a aldeia e advertir outros kappas para não passarem próximo ao povoado…

Kappa são geralmente vistos como desordeiros travessos ou malandro. Suas brincadeiras vão desde o relativamente inocentes, como olhando por baixo dos quimonos das mulheres, para a malévola, como afogando pessoas e animais, sequestrando crianças, e estuprando mulheres.

 

Como monstros aquáticos, kappa têm sido responsabilizados por afogamentos, tomando as shirikodama ( ?) de suas vitimas, uma bola mítica que dizem que contem a alma, e que está localizada dentro do ânus. Ainda hoje, existem sinais de alerta sobre kappa nos percursos de água em algumas cidades e vilas japonesas.