O Onmyo-za nos shows e nos clipes sempre usam kimonos e vestes típicas da era Heian (794 a 1185) no Japão o que acaba classificando a banda como Angurakei.

 

"Angura" é uma palavra japonesa equivalente à inglesa "underground", um termo que designa manifestações alternativas e de pouca exposição na mídia. O conceito do angura kei foi aplicado primeiro nos teatros japoneses nos anos 1960 e depois em outras formas de arte, como pintura e música. A intenção era criar algo unicamente japonês, uma contracultura, se opondo à invasão cultural estadunidense—que começou após a Segunda Guerra Mundial.

 

Sobre as vestimentas:

 

Na antiguidade

Não se sabe ao certo como eram as roupas usadas na Pré-história japonesa (Era Jomon – 10 mil a.C. a 300 a.C.), mas pesquisas arqueológicas indicam que provavelmente as pessoas usavam túnicas de pele ou de palha. Na Era Yayoi (300 a.C. a 300 d.C.) a sericultura e técnicas têxteis chegaram ao Japão através da China e da Coréia.

 Dos séculos IV a IX, a cultura e a corte imperial no Japão receberam forte influência da China. Influenciado pela recém-importada religião budista e pelo sistema de governo da corte Sui chinesa, o regente japonês Príncipe Shotoku (574-622) adotou regras de vestuário estilo chinês na corte japonesa. Posteriormente, com o advento do Código Taiho (701) e do Código Yoro (718, eficaz só a partir de 757), as roupas na corte mudaram seguindo o sistema usado na corte Tang chinesa, e foram divididas em roupas cerimoniais, roupas de corte, de roupas de trabalho. Foi nesse período que passou-se a usar no Japão os primeiros kimonos com a característica gola em “V”, ainda similares aos usados na China.

 

O Príncipe Shotoku e dois de seu filhos: penteados, túnicas e acessórios de forte inspiração chinesa na corte imperial japonesa. (Agência da Família Imperial, Tóquio, Japão)
O Príncipe Shotoku e dois de seu filhos: penteados, túnicas e acessórios de forte inspiração chinesa na corte imperial japonesa. (Agência da Família Imperial, Tóquio, Japão)

Opulência têxtil

Na Era Heian (794-1185) o contato oficial com a China foi suspenso pela corte imperial, e esse afastamento permitiu que formas de expressão cultural genuinamente japonesas florescessem nesse período. No vestuário isso se refletiu em um novo estilo, mais simples no corte, mas mais elaborado em camadas e sofisticação têxtil.

Os homens da aristocracia passaram a usar o sokutai, um conjunto formal composto por uma ampla saia-calça chamada oguchi, cuja aparência recheada e firme se deve a várias camadas de longos kimonos por baixo chamados ho, e uma enorme túnica bordada, de mangas longas e amplíssimas e uma cauda de cerca de 5 metros. Uma tabuleta de madeira chamada shaku e uma espada cerimonial longa, a tachi, eram complementos obrigatórios. Os homens ainda deviam usar um penteado chamado kammuri – composto basicamente por um chapeuzinho sólido preto e uma ou mais fitas de seda engomadas na vertical, tudo preso ao cabelo. De acordo com variações (haviam 5 delas, referentes a quantidades de fita, se ela enrolada, se ela pendia do chapéu, etc), sabia-se o status ou grau de importância do indivíduo na corte. Uma versão simplificada do sokutai, o ikan, é usada atualmente pelos sacerdotes xintoístas.

 

As damas da corte usavam o igualmente amplo e impressionante karaginumo, mais conhecido pelo nome adotado após o século XVI jūni-hitoe, ou “as doze molduras da pessoa”. Trata-se de um conjunto de nada menos que doze kimonos da mais fina e luxuosa seda sobrepostos chamados deuchiki, cada um levemente mais curto que o anterior, de modo a deixar golas, mangas e barras aparecendo em discretas camadas, criando um efeito multicolorido de impacto. O último uchiki, que serve de sobretudo, era bordado e era freqüentemente complementado por um cinto amarrado à frente em forma de laço no mesmo tecido, e uma cauda que podia ser em outra cor ou textura. Um enorme leque decorado com cordões de seda e um tipo de carteira de seda, encaixada na gola entre a 3ª e a 4ª camada, eram complementos obrigatórios. As mulheres não cortavam os cabelos: eram usados longuíssimos, lisos, soltos sobre as costas ou simplesmente amarrados um pouco abaixo da altura do pescoço, freqüentemente com as pontas arrastando no chão sobre a cauda do jūni-hitoe.

Kimono usado pela kuroneko na capa do álbum kongo kyuubi antes da imagem receber edições.
Kimono usado pela kuroneko na capa do álbum kongo kyuubi antes da imagem receber edições.

Estilo samurai

Na Era Kamakura (1185-1333), o advento do xogunato e o declínio do poder e do prestígio da corte imperial trouxe ao vestuário novos estilos adotados pela ascendente classe dos samurais. Na corte imperial e do xogum os grandes senhores e oficiais mais altos ainda usavam o formal sokutai, mas o kariginu, antes um traje de caça informal da aristocracia – um tipo de capa engomada com gola arredondada, longas e amplas mangas que podiam ser decoradas com cordões – foi amplamente adotado pelos senhores feudais e samurais.

As mulheres passaram a usar uma combinação de uchikis com um hakama, saia-calça ampla com placa de sustentação nas costas, usada também por homens. Com o tempo, uso do uchiki deu lugar ao kosode, que comparado ao uchiki é menos amplo, tem mangas mais curtas, e cuja forma aproxima-se mais dos kimonosmodernos. A amarra para fechar o kosode era feito com faixas estreitas, na altura da cintura ou pouco abaixo da barriga.

Na Era Muromachi (1333-1568) acrescentou-se o uchikake – também chamado dekaidori – um kimono com a mesma forma mas um pouco mais amplo que o kosode, que serve de sobretudo e que podia ou não ter barra almofadada. O kosode comuchikake era o traje formal feminino das altas classes. Hoje em dia o uchikake faz parte do traje de noiva tradicional.

Na Era Azuchi-Momoyama (1568-1600), período marcado por constantes guerras pelo poder entre os generais Hideyoshi Toyotomi e Nobunaga Oda, os samurais continuaram a usar coloridos e ricos conjuntos de peças superiores com calças, chamados de kamishimo – um kimono masculino com uma saia-calça ampla, longa e estruturada chamada nagabakama, tudo feito no mesmo tecido, às vezes complementado por uma jaqueta sem mangas, com ombros alargados e estruturados em tecido diferente. O kamishimo continuou sendo usado até a segunda metade do século XIX.

Uchikake usado em peças Nô, confeccionado no século XVIII – National Museum, Tokyo
Uchikake usado em peças Nô, confeccionado no século XVIII – National Museum, Tokyo
Seibunkasha
Seibunkasha

Gostos burgueses

Durante os 250 anos de paz interna do xogunato Tokugawa (1600-1868), os chōnin (burgueses, ricos comerciantes) deram apoio a novas formas de expressão artística e cultural que não mais derivavam da corte imperial ou da corte do xogum. O teatro kabuki e os “bairros do prazer” nas cidades de Edo (Tóquio), Osaka e Kyoto ditavam moda. O kosode, que se tornou o traje básico para homens e mulheres, passou a ser mais decorado, seja pelo desenvolvimento de técnicas de tingimento como yuzen e shibori, seja por outras técnicas artesanais de decoração têxtil com pintura, bordados e desenhos desenvolvidos no tear. Os obisfemininos, faixas largas e compridas usadas para fechar os kosodes, feitos em brocado com fios de ouro e prata, ganharam ênfase na moda e viraram símbolos de riqueza.

 

A haori, uma jaqueta com mangas amplas e gola estreita feita de seda, na qual bordava-se ou imprimia-se símbolos que representavam a atividade profissional da pessoa ou a insígnia (kamon, ou escudo circular) do chefe da família, passou a ser amplamente usado. Uma versão popular, de mangas mais estreitas, feita em tecido mais simples e resistente, passou a ser usada por trabalhadores e funcionários de estabelecimentos comerciais. Chamada de happi, essa peça ainda é muito usada.

Algumas peças surgidas no início desse período refletem influência portuguesa. A kappa (capa longa de corte circular, com ou sem gola, sem mangas, usada como sobretudo) deriva das capas usadas pelos navegantes portugueses, assim como a jūban (camisa com forma de kimono curta usada como roupa de baixo) deriva do “gibão” português.

 

No século XIX, o xogunato refez as normas de vestuário militar, e tornou okosode, o hakama com barra na altura do tornozelo e o haori o uniforme-padrão dos samurais. O daisho (conjunto de duas katanás – espadas curvas – uma longa e outra curta) e o penteado chonmage – a parte acima da testa é raspada, com os cabelos, compridos na altura dos ombros, presos em forma de um coque na parte superior atrás da cabeça – eram de uso obrigatório. O conjunto kosode, hakama e haori é hoje o traje do noivo em casamentos tradicionais.

Tempos modernos

A partir da Restauração Meiji (1868), os japoneses lentamente adotaram o vestuário ocidental. O processo começou por decreto: o governo determinou que todos os funcionários públicos, militares e civis, passassem a usar roupas ou uniformes à ocidental. Ao final da 1ª Guerra Mundial (1918), quase todos os homens já usavam ternos, camisas, calças e sapatos de couro.

As mulheres adotaram mais lentamente os estilos ocidentais. No início apenas a aristocracia usava vestidos de gala, importados da Europa, usados em algumas ocasiões formais na corte Meiji e em bailes do suntuoso salão Rokumeikan (de 1883 a 1889) em Tóquio. A partir da 1ª Guerra Mundial, mulheres instruídas e com profissões urbanas passaram a usar diariamente roupas ocidentais, mas só após a 2ª Guerra Mundial (1945) foi que o vestuário ocidental passou a ser a regra em todas as classes sociais, homens mulheres e crianças.

Atualmente a maioria das mulheres usam kimonos apenas em ocasiões especiais, como casamentos e matsuris (festivais populares ou tradicionais). Homens usamkimonos ainda mais raramente. O yukata, kimono leve de algodão estampado, típico de verão, ainda é bastante usado por homens e mulheres nos festivais de verão e em resorts, à ocidental ou estilo japonês. Desde a virada do milênio, entretanto, mais pessoas têm resgatado o uso do kimono no cotidiano, gerando um movimento informalmente apelidado de fashion kimono – kimonos de forma tradicional mas com estampas modernas, obis (faixas de amarrar na cintura) que não amarrotam ou com nós prontos, que agradam a um público mais jovem.

 

Tipos de kimono

Parece simples, mas não é. Dependendo de estampas e cores, os kimonos seguem uma etiqueta, uma hierarquia cujo uso depende da ocasião, da estação do ano, do sexo, do grau de parentesco ou do estado civil da pessoa que o usa. Veja a seguir os principais tipos dekimono:

Kurotomesode – “mangas curtas preto”, kimono preto com profusa decoração das coxas para baixo e com 5kamons (escudos de família) impressos ou bordados em branco nas mangas, peito e costas. Usado com um obi de brocado dourado, é o kimono mais formal das mulheres casadas, geralmente usado pelas mães do noivo e da noiva num casamento.

Irotomesode – “mangas curtas colorido”, kimono liso de uma só cor, geralmente em tons pastéis, com profusa decoração das coxas para baixo e com 5 kamons (escudos de família) impressos ou bordados em branco nas mangas, peito e costas. Usado com um obi de brocado dourado, é um kimono menos formal que okurotomesode, e é usado por mulheres casadas que são parentes próximas dos noivo e da noiva num casamento.

Furisode – “mangas que balançam”, kosode feminino cujas mangas possuem 70 cm a 90 cm de comprimento. É o kimono formal das moças solteiras, ricamente estampado, fechado com obi em brocado multicolorido e brilhante amarrado em grandes laços nas costas. É geralmente usado no Seijin Shiki (Cerimônia da Maturidade, no mês de janeiro no ano em que a moça completa 20 anos) e pelas moças solteiras aparentadas da noiva nas cerimônias e recepções de casamento.

Houmongi – “traje de visita”, kimono liso de uma só cor, geralmente em tons pastéis, com profusa decoração em um dos ombros e uma das mangas, e das coxas para baixo, sem kamons (escudos de família). Considerado um pouco menos formal que o irotomesode, em cerimônias de casamento é usado por mulheres casadas ou solteiras, que geralmente são amigas da noiva. O houmongi também pode ser usado em festas formais ou recepções.

Tsukesage – Comparado ao houmongi, o tsukesage tem uma decoração um pouco mais discreta e é considerado menos formal que o houmongi. Dos kimonos que podem ser usados diariamente por casadas e solteiras, é o mais requintado.

Iromuji – kimono de uma só cor, que pode ter textura mas sem decoração em outra cor, usado principalmente em Cerimônias do Chá. Pode ter um pequeno bordado decorativo ou um kamon (escudo de família) nas costas. É um kosode semi-formal, considerado elegante para uso diário.

Komon – “estampa pequena”, kimono feito com seda estampada com desenhos pequenos repetidos por toda a peça. Considerado casual, pode ser usado para sair pela cidade ou para jantar em um restaurante. Pode ser usado por casadas e solteiras.

Tomesode – “mangas encurtadas”, kosode feminino de seda, forrado em seda de cor diferente, cujas mangas possuem 50 cm a 70 cm de comprimento. A expressão deriva do costume de que quando as mulheres se casavam elas passavam a usar kimonos com as mangas curtas – ou cortavam as mangas dos kimonos – como símbolo de fidelidade ao marido. A maior parte dos kosode usados por mulheres são desse tipo.

Yukata – kimono informal de algodão estampado, sem forro. Mulheres usam os de grandes estampas, geralmente de flores, com obi largo, e os homens usam os de pequenas estampas, com obi estreito.
O yukata é mais usado em matsuris (festivais), mas também pode ser usado diariamente em casa.
Ryokans (hotéis ou pousadas tradicionais) e onsens (resorts com termas) costumam disponibilizar yukatas para todos os hóspedes.

 

Eis a seguir um vocabulário sobre aspectos e acessórios de kimonos:

Geta – sandália de madeira, geralmente usada por homens e mulheres com yukata.

Kanzashi – nome que designa uma série de ornamentos para o cabelo usados com kimono. Podem ter a forma de espetos com terminais esféricos ou diversos formatos decorativos, flores ou de pentes. São feitos em madeira laqueada, tecido, jade, casco de tartaruga, prata, etc.

Obi – faixa usada amarrada à cintura para manter o kimono fechado. Varia em largura e comprimento. Homens em geral usam obis de trama larga e firme, em cores discretas, estreitos, amarrando com um nó às costas circundando a linha abaixo da barriga. Mulheres em geral usam obis em brocado largos, com desenhos feitos no tear, ao redor do tronco e amarrados às costas. Cores e desenhos variam: os mais brilhantes e intrincados são usados em ocasiões formais.

Obijime – cordão decorativo em fio de seda usado para dar acabamento e firmeza à amarra do obi. Usado por mulheres.

Tabi – meia de algodão na altura dos tornozelos ou metade das canelas, com divisão para o dedão do pé, com abertura voltada para o lado entre as pernas.

Waraji – sandálias de palha trançada. Bastante comum décadas atrás, atualmente são mais usadas por monges.

 

Zōri – sandália com acabamento em tecido, couro ou plástico. Os femininos são estreitos e possuem a ponta mais ovalada, e os masculinos são mais largos, retangulares, com as extremidades arredondadas.